Como
jornalista, torço pela sobrevivência dos impressos. Como leitor, ando
meio cético diante dessa possibilidade. Os impressos estão seriamente
ameaçados de extinção por inadequação de uso. Atrevo-me a dar – às
pessoas que os fazem no Brasil – um rol de dez recomendações. Quem sabe,
os leitores poderiam ampliá-las e aperfeiçoá-las. O debate em torno do
futuro dos impressos não pode parar. Ei-las:
1. Prestem mais atenção ao clima organizacional. As redações estão traumatizadas pela longa série de ajustes e cortes. Para ter qualidade,
a atividade intelectual precisa de um mínimo de segurança e paz. O
momento tem de ser o da trégua, do pacto de não agressão. Que tal
pensarem numa trégua de pelo menos dois anos?
2. Escolham
líderes inventivos e que tenham uma compreensão atual e moderna do
mundo digital. Invistam em treinamento para acelerar a capacitação de todas as pessoas para lidar com a inserção no mundo digital das informações captadas para a produção dos impressos.
3. Observem
que a configuração urbana e econômica do país passa por grandes
transformações. Descentralizem estruturas e deem cobertura aos novos mercados
que despontam com grande vitalidade fora dos eixos tradicionais do
desenvolvimento. Os novos eixos são celeiros de oportunidades e é
natural que uma grande parte das atenções do leitor se volte para eles.
Criatividade e publicidade institucional
4. Fortaleçam a
cobertura de economia e negócios e resgatem o espaço que todos já
dedicaram ao agronegócio. Esses conteúdos têm mais força nos meios
digitais e serão de grande valia na hora de recuperar receitas que
migraram do papel para a internet.
5. Invistam em bons
pauteiros, que sejam capazes de trazer uma boa quantidade de matérias
exclusivas todos os dias. Não acreditem na teoria de que a missão dos
jornais em papel é fazer uma boa consolidação do material já divulgado
no dia anterior pela internet, pela TV e pelo rádio. O leitor exige
muito mais que isto. Quer ser surpreendido, diariamente, pelo seu
jornal.
6. Trabalhem,
comercialmente, também com muita criatividade. Lembrem-se de que o
anunciante compra cada vez menos os produtos de prateleira e compra cada
vez mais o taylor made, o produto feito quase de encomenda para ele e que sirva de boas molduras para a sua publicidade institucional.
Não desistam do papel
7. Façam mais jornais e otimizem assim os recursos aplicados na indústria gráfica, na distribuição, na captação de conteúdos.
8. Usem a
interatividade dos meios digitais para desvendar o interesse do leitor
por informação e façam jornais cada vez mais endereçados.
9. Invistam em reportagem. Os impressos serão cada vez menos o espaço do hard news e cada vez mais o espaço da reportagem e também da análise da tendência da notícia.
10. Insistam com o
papel. Não desistam do papel. Ainda não inventaram nada que substitua o
papel em suas principais características – portabilidade, credibilidade,
documentabilidade, capacidade de reprodução de fotos, ilustrações e
cores.
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Artigo extraído do Observatório de Imprensa e de autoria de Dirceu Martins Pio é ex-diretor da Agência Estado e da Gazeta Mercantil e atual consultor em comunicação corporativa
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