terça-feira, 4 de setembro de 2012

A oportunidade para as marcas na Paralimpíada


O que estamos esperando para fazer o paradesporto dar um salto e mudar de patamar no Brasil?

Por Roberto Trinas, de Londres *
A noite do domingo 2 foi gloriosa para o Brasil. Foram três medalhas de ouro e o hino nacional brasileiro executado pela primeira vez no Estádio Olímpico de Londres (nos Jogos Olímpicos não ganhamos medalha em competições disputadas no estádio) e recorde mundial quebrado na prova dos 200m rasos, com o brasileiro Alan Fonteles fazendo história ao derrotar e silenciar as 80 mil pessoas que torciam para Oscar Pistorius, o “Blade runner”, primeiro atleta biamputado a conquistar o direito de também disputar os Jogos Olímpicos e a grande celebridade do esporte paralímpico no momento.
Puro entretenimento. Se ainda restava alguma dúvida de que os Jogos Paralímpicos são uma grande festa capaz de trazer provas de altíssimo nível de competitividade e toda a emoção do universo do esporte, essa noite não me deixará esquecer. O estádio Olímpico estava lotado, clima de euforia total e finais eletrizantes – o melhor exemplo foi a última sessão da noite, na incrível prova dos 5.000m para cadeirantes, na qual, numa arrancada sensacional para a vitória, o britânico David Weir fez o estádio delirar e aplaudi-lo de pé.
Quando tenho a oportunidade de presenciar um evento deste porte e assistir às campanhas de comunicação de empresas como Visa, Samsung, British Telecom, Sainsbury’s, Adidas entre outras, abraçando o esporte e expondo seus atletas como embaixadores de suas marcas, me pergunto: o que estamos esperando para fazer o paradesporto dar um salto e mudar de patamar no Brasil? O que é que está faltando para mobilizarmos e aumentarmos o investimento que hoje é significativamente inferior ao do esporte olímpico (3% x 97% do total investido)?
Neste momento em que muitas empresas estão em busca de projetos e soluções na área de esportes no Brasil, temos, aqui em Londres, atributos, valores e histórias belíssimas para contar e energizar marcas, inspirar e motivar colaboradores e clientes. Temos uma delegação paralímpica altamente competitiva, com chances reais de estar entre os sete melhores do mundo nesta edição dos Jogos (o Brasil ficou em 22o lugar nos Jogos Olimpicos) e um interesse cada vez maior da mídia, que vem progressivamente ampliando espaço em programas esportivos e na cobertura jornalística.

Acima de tudo isso, podemos fazer uma enorme diferença na vida de milhões de brasileiros. Para quem não sabe, hoje são mais de 27 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência no Brasil (14,4%, segundo o IBGE). Se pensarmos nos núcleos familiares, são mais de 60 milhões de pessoas que se relacionam com o tema, e que quase todos os dias consomem bens, produtos e serviços, de diversas empresas, em diversos segmentos. É um enorme potencial de construção de imagem e reputação de marcas, para uma parcela expressiva de mercado. Uma oportunidade de negócio incrível. 

Não tenho dúvida de que a relação entre o investimento e o potencial de visibilidade e retorno em imagem no paradesporto seja amplamente favorável comparativamente a outras propriedades disponíveis no universo do esporte, sobretudo se levarmos em consideração as diversas alternativas de benefícios fiscais, entre elas a Lei de Incentivo ao Esporte, que permite à pessoa jurídica o abatimento de até 1% de IR. Para as pessoas físicas, o limite é de 6%.

Mais do que investimento e desenvolvimento através do esporte, estamos falando em transformar preconceito e vergonha em orgulho, em educar, formar cidadãos e bons exemplos, e a multiplicar histórias de superação e inspiração. A hora é de sonhar grande. Precisamos colocar o esporte na agenda das empresas e do país. E não com uma atitude assistencialista, filantrópica ou algo parecido, mas com a crença de que vale a pena investir e desenvolver negócios sociais que geram retorno para todos os envolvidos. Como o próprio lema do esporte nos ensina, vamos pensar no que podemos fazer e nunca no que não podemos, pois não há limites que não possam ser superados.
Em tempo, vale lembrar que dar dinheiro a quem já tem apoio, sejam atletas, clubes ou confederações, certamente não é a única maneira. Ao invés de concentrar recursos, porque não atuar numa base mais abrangente, criando e investindo em projetos com poder de transformar estruturalmente a base do esporte, criando mecanismos que facilitam o acesso e criam perspectivas para o longo prazo, sempre com potencial de replicação e cobertura nacional. Investir em centros de treinamento, na qualificação de agentes formadores e nas condições para o desenvolvimento de uma nova geração de atletas em diversas modalidades vai certamente contribuir para acelerar o progresso e o reconhecimento do esporte no Brasil.
É isso aí, continuem ligados e vamos torcer! Já são 7 ouros nos quatro primeiros dias e tenho certeza de que vem muito mais por aí!!
Abraços e até a próxima!
* Roberto Trinas é sócio-diretor da Vibra Branding Esportivo

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