terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Explosão da frota agrava problemas de estacionar

Volume crescente de veículos nas ruas fez valor das vagas subirem. Nos condomínios, falta onde parar o carro

Não é só o trânsito o vilão de quem mora nos grandes centros urbanos. Após enfrentar os intermináveis congestionamentos e chegar ao destino, vem a segunda missão: encontrar uma vaga para estacionar. Conseguir um lugar na rua chega a ser tão difícil quanto achar um estacionamento particular que cobre um preço razoável. Como a quantidade de veículos não para de crescer (somente em 2011, 3,63 milhões de automóveis e comerciais leves foram vendidos no Brasil) a lei da oferta e da procura é levada ao extremo.

Aqui no Brasil, Rio de Janeiro e São Paulo despontam como as cidades com os preços mais altos do País quando o assunto é estacionamento – de acordo com pesquisa da Colliers International, empresa ligada ao ramo imobiliário, a dupla figura nessa ordem como os locais mais caros de toda a América Latina.

Para se ter uma ideia, os preços cobrados nos estacionamentos da capital paulista subiram 116,1% somente nos últimos cinco anos, segundo levantamento da Agência Autoinforme. O valor de uma diária pode chegar perto dos R$ 30, nas duas capitais. Por isso, não é de causar espanto que as caríssimas e, ainda assim, disputadas vagas de garagem já tenham se tornado produto de sites de vendas coletivas.

Em outros locais do globo também se discute a polêmica dos preços. A região de Manhattan em Nova York, por exemplo, é o local com os valores mais elevados dos Estados Unidos, com média mensal acima dos U$S 541 (equivalente a aproximadamente R$ 940), enquanto no restante do país ianque fica em torno de U$S 155, cerca de R$ 269.

Se o assunto é preço exorbitante, a palavra é “Knightsbridge”. É neste bairro, considerado uma das regiões mais nobres de Londres que fica localizada uma das vagas mais caras do planeta. Para ter direito de usar os 26 m2 de um estacionamento subterrâneo com acesso privativo, 24 horas por dia, com segurança, são cobradas incríveis 200 mil libras, o que representa aproximadamente R$ 549 mil. Esse preço é para a locação durante os primeiros nove anos.

Vagas em garagens: eis a questão



Depois de penar, seja para encontrar uma vaga na rua ou para pagar a diária do estacionamento, a hora de guardar o carro em casa também é um momento tenso para muita gente que mora em condomínio. Se alguns prédios antigos são reféns de pouco espaço, outros mais novos sofrem com projetos mal executados. Vagas não fixas, apertadas e com localização que compromete a entrada e saída no veículo, estão entre as principais queixas relatadas pelos usuários.

A coordenadora de eventos, Alessandra de Almeida, 35 anos, diz ser vítima de duas situações aborrecedoras: vaga pequena e vizinho inconveniente. A única vaga que possui fica entre uma coluna e uma parede. “Ao descer do carro eu tenho que tomar cuidado para não ralar a porta na coluna, no carro do vizinho ou tomar coragem para ser esmagada pela parede. Quando opto por descer pelo lado da parede, preciso fazer contorcionismo para não riscar o meu próprio carro, já que fica tão apertado que o botão da calça jeans passa encostado da lataria. Se eu virar de costas, não estrago a pintura, mas raspo a cara no muro”, descreve rindo.  Mas foi só voltar no assunto “vizinho” que o bom humor desapareceu. Ela diz que quando o usuário da vaga ao lado estaciona errado, dificulta ainda mais a situação. “Eu levei o assunto para o síndico. Disse que, algumas vezes, ele (o vizinho) para sem respeitar a faixa que delimita as vagas, o que fiz questão de fotografar”, reclama.



No condomínio do Instrutor de Treinamento, Guilherme Ponchini Prado, 25 anos, as vagas não são demarcadas e, para complicar ainda mais, não são lineares. Por lá, alguns moradores poderiam modificar o ditado “quem ri por último ri melhor” para “quem estaciona por último, estaciona melhor”. Isso porque é mais vantajoso chegar em casa para guardar o carro após todos já terem ocupado as primeiras vagas, já que as do final não exigem muitas manobras. “Quando tenho que parar nas primeiras, as do fundo, faço no mínimo, umas duas manobras. Sair de ré é ainda pior, porque tenho que me concentrar para desviar dos outros carros, motos e pilares", lamenta.

Ainda sobre os problemas que tem ao estacionar, Ponchini comenta: “Ás vezes, meu carro fica preso por outro que está atrás. Aí tenho que pedir ajuda para o zelador, que mantém uma cópia reserva de todas as chaves”, desabafa. “Além disso, dependendo do tamanho do veículo, fica difícil até para abrir a porta. Ou você manobra, ou mata a vaga do vizinho”, diz o proprietário de um grandalhão e conservado Santana 1997. Outro episódio frustrante para Guilherme foi chegar em casa com uma picape Volkswagen Amarok e não conseguir entrar na garagem, pois o portão não possuía largura suficiente. “Fazer o quê? Ela teve que dormir na rua”, brincou.

E como se não bastassem inconvenientes, no condomínio em que o Guilherme reside são apenas cerca de 30 vagas compartilhadas entre 42 apartamentos. Esse tipo de problema já foi percebido por algumas empresas que desenvolvem soluções para ampliar a quantidade de vagas em uma garagem, utilizando os chamados duplicadores. “É uma plataforma hidráulica e automática, que funciona como um elevador para colocar um outro carro”, explica o gerente de vendas da Easy Park Solutions, Sérgio Santana.

O especialista comenta ainda que, antes de instalar o sistema o proprietário precisa de autorização do condomínio. Para que a plataforma seja viável, é necessário que a altura da garagem seja de, no mínimo, 3,50 metros. Já o preço da comodidade de transformar a sua vaga em duas é de aproximadamente R$ 18 mil, já contando com a instalação. “O duplicador de vagas pode ser utilizado para guardar qualquer carro de passeio vendido no Brasil, de hatch pequeno a carros grandes, já que comporta até 2.700 quilos”, diz Sérgio ao ressaltar que a procura por esse tipo de sistema subiu 25% no último ano.

Dicas: não seja enganado

Para começar, existe uma legislação que trata dos tamanhos ideais para as vagas de garagem. Essas medidas podem variar, de acordo com o Código de Obras e Edificações de cada Município. Para se ter uma ideia, em São Paulo, o tamanho mínimo é de 4,20 metros de comprimento por 3,0 m de largura.

E o que fazer para ter certeza da medida? A orientação do diretor do IBEDEC (Instituto Brasileiro de Estudo e Defesa das Relações de Consumo), José Geraldo Tardin, é contratar um engenheiro civil para aferir. “Com o laudo comprovando que o tamanho está abaixo do especificado, o proprietário deve procurar um instituto de defesa do consumidor que irá orientá-lo de com proceder”, diz ao mencionar que em casos de sucesso o morador é indenizado.

Nos casos em que o consumidor está adquirindo um imóvel ainda na planta, o ideal é solicitar uma cópia do projeto da garagem para que seja possível visualizar a vaga adquirida e compará-la, posteriormente, com a entregue. O especialista destaca que é fundamental que o cliente exija que esteja no contrato a localização da vaga (térreo ou subsolo) e se é coberta ou não.

Quem pode, pode

Enquanto uns lutam contra as leis da física para fazer dois carros quase ocuparem o mesmo lugar, outros endinheirados abusam das gigantescas e vips “salas de guardar carros”. Em São Paulo, por exemplo, um condomínio que ainda está em construção tem como um dos diferenciais oferecer garagens exclusivas. Com entrada privativa, as medidas de cada garagem variam de 70 m2 a 138 m2, o que inclusive supera a área total de muitos apartamentos e casas. “O perfil de cliente que procura um imóvel com garagens iguais a estas é de pessoas que realmente valorizam um ambiente exclusivo para guardar os carros. Tanto é que, em alguns casos, a garagem foi o fator decisivo para que se fechasse o negócio”, comenta Marcelo Caspar, diretor da incorporação.



Mas o preço da exclusividade é alto. O imóvel com a garagem de 70 m2 custa nada menos que R$ 2,6 milhões, enquanto o que oferece o espaço para guardar os carros de 138 m2 sai por R$ 4,9 milhões. “Não se trata de uma garagem comum. Temos proprietários que já estão desenvolvendo projetos para customizar o lugar e torná-lo um ambiente agradável para ele se dedicar ao hobby”, explica ao mencionar que das 36 unidades, nove ainda estão à venda.

E para quem quer dar um tratamento especial à maquina mas não gastar tanto, já existe um lugar onde você pode guardá-lo e ainda contar com serviços de conservação. Com seis anos de tradição, o local situado na Vila Leopoldina, zona oeste da capital paulista, funciona como uma garagem coletiva voltada para os fãs de antigomobilismo. “O cliente paga uma mensalidade e deixa o carro aqui. Nosso diferencial é cuidar do veículo, calibrar os pneus periodicamente, mantê-lo limpo, colocá-lo para funcionar, garantindo que a qualquer hora que o proprietário chegar, poderá ter seu carro em perfeitas condições”, garante o colecionador de carros antigos e proprietário do Garage, Guilherme Franco. “E se o cliente quiser usar o carro, mas não quiser ir até lá, funcionários providenciam a entrega a retirada do automóvel, em plataforma, no local indicado”, explica.

Questionado a respeito dos R$ 350 cobrados por carro, o proprietário do local explica. “Eu gosto de carros antigos. Montei este lugar para guardar os meus e, aos poucos, comecei a receber modelos de conhecidos. Se você analisar, cobramos barato. É só comparar com os R$ 400 pagos para guardar apenas um kart em qualquer kartódromo por aí”, finaliza.

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