quarta-feira, 8 de junho de 2011

"Não considero o Publicis meu maior rival"

Martin Sorrell, CEO do WPP, fala ao Meio&Mensagem sobre recentes aquisições no mercado brasileiro

Poucas horas após o anúncio oficial da compra da Fbiz e um dia antes da confirmação da aquisição da Gringo, Martin Sorrell, CEO do Grupo WPP, falou à reportagem de Meio & Mensagem sobre a crescente importância do Brasil para a maior holding global de comunicação de marketing.

O WPP recentemente lançou duas novas empresas no País, 9ine e The Future Company, além de ter comprado no ano passado a Midia Digital e a I-Cherry. Sorrell falou também sobre a parceria com Ronaldo na 9ine e analisou o momento da economia do País.


Ele aproveitou para alfinetar o rival Publicis, cujo CEO Maurice Lévy comandou diversas aquisições recentes no mercado brasileiro. 

Meio & Mensagem ›› As aquisições do Publicis colocam o grupo como seu principal rival no Brasil?

Martin Sorrell ›› Se olharmos os fatos, não acredito que seja. Nós temos as três maiores agências do Brasil e estamos bem à frente do segundo maior grupo. O que eles compraram recentemente? A Talent? Que posição ela ocupa no ranking brasileiro de agências? E a AG2? A Fbiz, por exemplo, era a maior agência independente do Brasil em seu segmento. Enxergo como nossos grandes rivais o Omnicom, que tem a AlmapBBDO, e o Grupo ABC, de Nizan Guanaes e da Africa. Outras agências que são boas competidoras são a Neogama/BBH e a WMcCann.
M&M ›› Os fatos envolvendo a Fifa recentemente afetam de alguma maneira a credibilidade da instituição diante do público e das marcas que a patrocinam?

Sorrell ›› Começamos a ver reclamações sendo expressas às vésperas da eleição e Joseph Blatter anunciou em seguida que Henry Kissinger ajudaria a Fifa a resolver os problemas. Isso nos assegura de que haverá mudanças. Temos que voltar no tempo e lembrar das questões que envolveram o Comitê Olímpico Internacional. Claro que as questões envolvendo a Fifa agora são maiores, mas quando o presidente Jacques Rogge substituiu a Juan Antonio Samaranch, ele conduziu um grande estudo em cima das questões que envolviam o comitê e conseguiu mudar a imagem de uma maneira muito positiva. Ou seja, já vimos coisas assim antes. O que eu acho que vai acontecer é que o presidente Blatter fará as mudanças necessárias. Isso vai acontecer porque é de interesse de governos, dos patrocinadores e das associações de futebol. A Fifa é uma força de 4,2 bilhões de dólares, três vezes maior do que a Fórmula 1. É uma grande força que precisa mudar.
M&M ›› O que você pensa do jogador Ronaldo, seu sócio na 9ine, como homem de negócios?

Sorrell ›› A 9ine está há apenas oito meses no mercado e o Sérgio Amado conhece Ronaldo melhor do que eu. Encontrei com ele recentemente no jogo do Brasil contra a Escócia em Wembley e no evento do Fórum Econômico Mundial no Rio de Janeiro, onde fizemos uma apresentação junto com Luis Moreno (presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID)) sobre os jogos Olímpicos e a Copa do Mundo. O que eu posso dizer é que ele é um grande talento obviamente dentro do campo, mas também fora dele. Estou muito empolgado com as perspectivas da 9ine e com o que podemos fazer com o Ronaldo fora do campo de futebol. Veremos com o tempo se a agência pode se tornar internacional, vai depender do progresso. Mas o trabalho com dois clientes já é empolgante.
M&M ›› Como será o posicionamento da Fbiz no grupo WPP?

Sorrell ›› A agência seguirá independente, manterá a mesma liderança e poderá competir com as outras redes. No futuro, queremos que ela expanda suas operações não só dentro do Brasil, mas em toda a América Latina. Além disso, queremos trabalhar com os clientes que eles já possuem e ajudá-los a construir novos negócios. A compra da Fbiz me satisfaz porque atende às nossas três frentes de crescimento, que são a expansão para novos mercados, para novas mídias e para o setor de pesquisa de consumo. A agência está no centro do conhecimento sobre como os consumidores estão alterando seus hábitos. Outro ponto importante é que a Fbiz tem clientes que ainda não atendemos no Brasil e que farão parte de nosso portfólio. E em termos financeiros, o WPP iria fechar 2011 com um faturamento de US$ 650 milhões no Brasil, mas com a aquisição saltamos para US$ 700 milhões (em 2010, o grupo fechou com US$ 14,4 bilhões no mundo).
M&M ››  Com esses números, o Brasil ganha posições dentro do grupo?

Sorrell ››  Os Estados Unidos seguem como maior mercado para o WPP, à frente do Reino Unido. O Brasil está em oitavo lugar, atrás de outros como China, Japão e Alemanha. Mas com as perspectivas de crescimento do negócio, aliado às oportunidades com Copa do Mundo e Jogos Olímpicos, o País crescerá rapidamente e deve se tornar um dos cinco maiores em breve. O mercado publicitário terá um grande crescimento em 2011 e nossos primeiros resultados neste ano na América Latina, região em que o Brasil representa metade dos negócios, já foram muito fortes. Queremos estreitar ainda mais a nossa ligação com o País. Espere 24 horas que anunciaremos outra novidade (a aquisição da Gringo foi anunciada poucas horas após a entrevista).
M&M ››  Especialistas atentam para algumas situações negativas da economia brasileira, como a alta na inflação. Qual é a sua análise?

Sorrell ››  O País foi muito bem-sucedido com o presidente Lula e estou seguro que será da mesma maneira com Dilma Rousseff. A moeda é muito forte, mas existe uma preocupação com um possível aquecimento excessivo da economia e com a inflação. O que precisa acontecer é uma espécie de relaxamento que será saudável para a economia. O Brasil cresceu muito rapidamente em um espaço de tempo relativamente pequeno. Por isso, o ritmo de crescimento deverá diminuir para acomodar a expansão e para que o sistema econômico possa absorver esse movimento. Depois disso, o Brasil poderá voltar a crescer no mesmo ritmo. Com a realização da Copa do Mundo, Olimpíada e o próprio desenvolvimento da infraestrutura, haverá uma grande oportunidade para o País conduzir esse planejamento.

 

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