quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Veja os carros que não existem nas revendas

Um exemplo é o Ford Focus GL com motor 1.6. Em quatro concessionárias, porém, nada do veículo


O preço "a partir de..." aparece na propaganda, bem como aquela versão cheia de adereços esportivos e equipamentos. Mas é só passar a porta da concessionária para se sentir um peixe mordendo uma isca. Fizemos uma ronda por revendas de São Paulo e do Rio de Janeiro para descobrir que muitas versões de carros só existem em teoria. Isso sem falar em modelos que não são encontrados em qualquer configuração.
Muitos dos carros que não chegam ao mundo real são versões de entrada. Um exemplo é o Ford Focus GL com motor 1.6. Em quatro concessionárias, porém, nada do carro. Em uma delas, a vendedora não teve meias palavras. “Não compensa trabalhar com a versão GL. A GLX vale muito mais a pena.”
Outros modelos mais em conta também parecem miragem. Conseguir um Chevrolet Sonic LT é tarefa para gente paciente. Só uma das cinco revendas GM consultadas tinha o carro sul-coreano, mas apenas na cor prata e com carroceria sedã. Alguém insistente tem de recorrer à versão LTZ, que tem preço de R$ 3 mil a R$ 5 mil mais alto.
Para Luiz Carlos Mello, ex-presidente da Ford e consultor do Centro de Estudos Automotivos, uma explicação pode ser a demanda maior por modelos de entrada. “Os fornecedores , muitas vezes, não têm condições de atender à nova demanda em um prazo curto. Além disso, uma mudança na escala vai contra o planejamento traçado no início da produção”, conta o consultor.
Versões intermediárias e topo de linha também viram pegadinhas para os incautos clientes. A médica Juliana Bartolli, 25 anos, queria um Fiat Bravo completinho, mas voltou para casa com um Chevrolet Cruze.
Ela peregrinou por três concessionárias Fiat em cidades diferentes e não achou um Bravo Absolute Dualogic 1.8 16v sequer. “Não me deram certeza alguma, só falaram que o carro estava em falta e, se encomendasse, esperaria no mínimo 60 dias pela entrega. Depois, pesquisei o Cruze, visitei três revendas e o carro chegou em razoáveis 20 dias”, conta Juliana.
Poucas unidades /Ainda na linha Fiat, a versão T-Jet do Punto, lançada há mais de dois meses e já no site da marca para ser "montada", até agora não deu o ar da graça nas lojas.
Nem a Sporting, com motor 1.8 e visual fuçado, serve de consolo: das quatro lojas pesquisadas, apenas uma tinha o modelo– uma unidade.
Nada do Peugeot 408 Griffe também. O requintado sedã praticamente sumiu com a chegada da versão com turbo, que tem preço similar. Numa das concessionárias, a vendedora chegou a afirmar que a configuração nem sequer existia.
“Como o fabricante não quer perder venda, anuncia todo o seu portfólio. E apesar da corrida às lojas, as fábricas mantêm a rotina de produção. Isso porque não querem ter aumento no custo de produção, que poderá não ser acompanhado nos meses seguintes”, ressalta Sérgio Bessa, da FGV.
Neste raciocínio, deve ser mais lucrativo vender as configurações mais caras do Duster. Todas as cinco revendas procuradas só tinham a versão topo de linha, com bancos de couro e preços a partir de R$ 66 mil - bem acima dos teóricos R$ 57.850 de tabela do sumido Duster Dynamique 2.0 4x2. “Esse carro só deve voltar em dezembro”, contou um vendedor da Renault.
No site da Volks é possível pôr airbag duplo, ABS e direção hidráulica no Gol 1.0, ao custo total de R$ 30.600. Mas tente fazer isso na revenda...
De oito lojas, nenhuma tinha o modelo com o pacotão de segurança.
E aquela garrafa de tequila secou...
Carros importados do México também estão sumidos, mas por outros motivos. Os Nissan March e Versa somente agora começam a voltar às revendas. Isso porque a cota de exportação do país latino-americano, com o qual o Brasil tem acordo alfandegário, estourou.
Em julho, o estudante Joel Trindade, de 20 anos, foi com um amigo a uma revenda da Nissan. Estavam interessados no Versa. Os vendedores garantiram que em 20 de agosto teriam o sedã. Na data, porém, pediram mais duas semanas.
“Depois, liguei para a revenda e eles me pediram para entrar na fila de espera, com prazos de 60 a 90 dias”, reclama o estudante.
Foi tanta novela que Joel desistiu do Versa e comprou um Peugeot 207 Passion no fim de agosto. Seu amigo esperou até outubro, em vão. Acaba de encomendar um Hyundai HB20, que só deve chegar em 20 dias.
A solução para muitas revendas da Nissan surge agora por importações fora da cota de isenção– ou seja, pagando os 35% de alíquota.  O também mexicano Honda CR-V com câmbio automático é outro sumido. Com muita perseverança, consegue-se o utilitário com caixa manual (o mais barato), por R$ 90 mil. Caso contrário, o cliente que quiser ser fiel à marca terá de levar um Civic ou Accord.     

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