quinta-feira, 18 de agosto de 2011

O carro vai sair de linha? Chora que tem desconto!


Muita gente é apaixonada por determinado carro e se revolta se ele sai de linha. Meu amigo Pinóia comprou um Chevette - um projeto totalmente defasado - quando soube que a GM iria parar a produção do carro. Você duvida que haverá uma corrida às revendas quando a Kombi sair de linha? Não duvide. Vai dar dó dos viúvos da perua.

Há vinte anos o consumidor brasileiro não tinha muitas opções para comprar e os carros permaneciam em linha anos sem mudanças. Era comum a montadora anunciar como "novidade" da linha uma forração diferente, um espelho retrovisor do lado direito (na época o equipamento não era obrigatório) ou simplesmente novas cores e grafismos. Lembro-me de um evento promovido pela Volkswagen para anunciar a nova tecnologia na Brasília: o modelo 1979 vinha com luz de ré.
Esse retrato nostálgico é para mostrar que a relação que o consumidor tinha com o carro há 20 anos era bem diferente da que tem hoje. Quando um carro saia de linha, o sentimento do consumidor era de perda, pois o seu substituto era bem mais moderno, muitas vezes era de categoria superior, e bem mais caro. Foi assim com o Gol, que substituiu a Brasília, com o Escort que substituiu o Corcel e com o Corsa que substituiu o Chevette.
O mercado dos carros que saíam de linha era forte, dinâmico, tinha vida própria, o produto valorizava em vez de depreciar. Era comum o sujeito comprar um carro usado e depois de doze meses ele valorizar mais do que o dólar (que na época subia todo dia), ouro, caderneta de poupança e bolsa de valores.
O mercado mudou. Hoje o carro que sai de linha "já vai tarde", o substituto muitas vezes é um carro completamente diferente, mas tem o mesmo nome, como Corolla - cujo nome sobrevive há 45 anos, em várias gerações. Mas mesmo os que saem definitivamente de linha, com nome e tudo, como o Stilo, e os que sofrem um simples face lift, têm em comum a grande depreciação.
Trata-se de um fenômeno recente, que começou com a ampliação das facilidades para a compra do carro zero e se solidificou com a crise econômica iniciada no final de 2008.
O que seria impensável há vinte anos, hoje é regra: o carro que está sendo lançado é mais moderno, tem mais equipamentos e custa mais barato! Não dá pra ficar com saudade do carro que saiu de linha.
Hoje os preços estão em queda constante, tanto o novo quanto o usado. O carro OK teve uma queda de 0,13% no primeiro semestre deste ano, diante de uma inflação (IPC da Fipe) de +3,15%. O preço do usado desabou: de outubro de 2008, início da crise, até maio último, os carros usados ficaram 18,5% mais baratos.
O que aconteceu com o Sandero é um bom exemplo dessa tendência. O modelo 2012 ganhou frente nova, teve alterações na traseira e mudanças internas. Ainda assim, o carro ficou R$ 1 mil mais barato e o preço da a versão Stepway caiu R$ 3 mil. Imagine como ficou o preço do modelo velho, 2011, vendido na semana anterior? Quem comprou, perdeu dinheiro.
Por isso, quem quiser aproveitar as ofertas das montadoras que estão substituindo seus modelos, tem que ficar atento. Só mesmo um bom desconto vai compensar o sacrifício de ficar com o carro velho. Não pelo carro em si, mas pelo que ele vai fazer você perder na hora da revenda. E não será difícil obter esse desconto. Com a imprensa especializada cada vez mais ativa e a grande disseminação de informações pela internet, as fábricas já não conseguem manter os seus segredos. O consumidor sabe com antecedência que o carro vai ser substituído e as montadoras acabam fazendo uma condição especial para acabar com o estoque do carro velho.
"Quando o Fox foi substituído, a fábrica entrou com um bônus de R$ 1,5 mil e as concessionária com mais R$ 1,5mil para vender o modelo velho. Só assim limpamos o pátio para receber o modelo novo", disse o gerente de Vendas de uma concessionária Volkswagen de São Paulo.
O desconto, nesse caso, foi de 8%, mesma margem que o diretor de uma grande loja multimarcas em São Paulo costuma dar aos clientes logo que as notícias da chegada do carro novo começam a circular na imprensa:
"É só sair a notícia de uma simples remodelação do carro que as vendas estancam. Não tem jeito. Tem que dar desconto senão o cliente não compra".
Ele diz que basta o cliente ler num site no exterior que a fábrica tem intenção de lançar um modelo novo que ele se recusa a comprar o carro que está no catálogo.
"Às vezes a fábrica lança um substituto na Europa e a gente sabe que ele vai demorar um ou dois anos pra chegar no Brasil. Mas não adianta, o cliente não compra e o modelo perde preço".
Mas o desconto de 8% com o qual o mercado trabalha nem sempre é vantajoso para o comprador. Ocorre que as mudanças no carro quase sempre combinam com a mudança do ano-modelo, e aí está o problema: a linha nova, mesmo quando o carro permanece exatamente igual, vai ter uma diferença de preço muito grande na hora da revenda, dois ou três anos depois.
O valor de revenda é um dos atributos mais valorizados pelo consumidor na hora da compra. Com razão. Ninguém quer perder dinheiro.
O estudo de Depreciação feito pela Agência AutoInforme mostra que o carro perde, em média, 15% do seu preço depois de um ano de uso. Se além do ano-modelo houver mudança de linha, a depreciação pode ser maior.
A depreciação varia conforme o tamanho, o tipo e o valor do carro. Você percebe, na tabela, que os hatch pequenos de grande volume de venda são os menos depreciados e que, ao contrário, os carros grandes de luxo são os que mais perdem o valor de revenda.
A isso você deve acrescentar o fator psicológico, de você rodar por aí com um carro novo. Somando tudo, na hora da compra não dá pra aceitar um desconto menor do que o percentual da sua desvalorização.

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