segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Realidade aumentada: a nova onda do setor móvel


Maartens Lens-Fitzgerald usa uma brincadeira como assinatura de seus emails: “Esta mensagem pode ter sido escrita de cima de uma bicicleta.” O gracejo pode representar um pedido de desculpas pelos erros ortográficos, uma alusão ao fato de que ele é holandês ou um indicador de sua imaginação excêntrica. Ou talvez, já que ele é presidente de uma companhia que planeja combinar o mundo virtual ao mundo físico, devemos entendê-la literalmente.


Lens-Fitzgerald, 39, fundou uma das companhias que mais atraem interesse no mercado das comunicações móveis, a Layar. O objetivo da companhia holandesa é nada menos que se tornar a plataforma preferencial para a Realidade Aumentada (RA), uma nova e florescente mídia. Com o uso de celulares inteligentes e tablets, a RA sobrepõe informações virtuais — textos, imagens, jogos — às imagens físicas do mundo que nos cerca.

Alguns executivos do setor móvel acreditam que a RA tem imenso potencial. Embora as receitas diretas de 
RA representem apenas algumas dezenas de milhões de dólares no momento, o número deve dobrar a cada ano e atingir os US$ 350 milhões em 2014, de acordo com a ABI Research, da Nova York. O impacto no setor móvel e na indústria da computação como um todo pode ser ainda maior, convencendo os usuários a usar seus aparelhos móveis ainda mais do que já fazem.

A Samsung Electronics usou o Layar como recurso de maior destaque em muitos dos anúncios de seu mais bem sucedido modelo de celular inteligente, o Galaxy S, que surgiu no ano passado como principal rival do iPhone e gerou US$ 5 bilhões em receita.

Em agosto de 2009, quando a revista Wired publicou que “se você não estiver vendo dados, não estará enxergando”, a RA ainda era mais fantasia que a realidade. Mas no ano passado empresas de todo o mundo começaram a usar aplicativos que usam RA e tentam tornar o mundo virtual parte inerente de nossas vidas cotidianas. Pesos pesados da tecnologia como, Apple, Google, Intel, Nokia, Qualcomm e Samsung detectaram a tendência e estão desenvolvendo estratégias de RA.

Influenciados por escritores de ficção científica como William Gibson e Vernor Vinge, e pela série de animê Denno Coil, de Mitsuo Iso, Lens-Fitzgerald e alguns outros empresários lideram essa potencial revolução.
A Intel Capital, divisão de capital para empreendimentos da Intel, investiu 10 milhões de euros (US$ 13,4 milhões) na Layar no final de 2010. “Outras empresas se concentram em tecnologia, mas a Layar se concentra em uso, o que é único”, diz Marcos Battisti, diretor regional da Intel Capital. Mas então vem a conhecida ressalva: “Os números são grandes, a tecnologia atrai o usuário” diz ele. “Mas a questão é como gerar dinheiro com ela.”

Sentado enquanto almoça sanduíche e leite com colegas no escritório aberto da companhia em Amsterdã, Lens-Fitzgerald afirma que a questão do lucro, apesar de importante, não chega ao ponto: “A promessa dessa tecnologia é tão grande que nós não queremos nos limitar com um plano de negócios.”
Analistas de tecnologia da Forrester também enxergam potencial para a RA se tornar uma força que vai mudar fundamentalmente a maneira como as pessoas se comportam.

“Nos próximos anos, será uma tecnologia que mudará a maneira como consumidores interagem com seus ambientes”, disse Thomas Husson, da Forrester.

Uma coisa, porém, está clara: se a onda sobre o RA parece algumas vezes como uma segunda versão do boom das empresas de internet, então a sequência será em 3D, ou até 4D.

Muitos dos aplicativos até agora dependem de onde está o usuário, do que ele vê ao seu redor e são acionados pelo movimento no espaço. “Localização”, escreveu o chefe de vendas da Nokia, Niklas Savander, no Twitter em outubro, “será a próxima grande onda.”

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