
Há um senso comum entre os entusiastas de automóveis que diz que, reparando nas três principais marcas premium alemãs – Audi, BMW e Mercedes-Benz
– , é possível notar uma clara distinção de personalidade entre elas.
Fazendo um paralelo com seres humanos, é como se a Audi fosse um cidadão
alemão moderno, a BMW um alemão "louco" (no bom sentido) e a Mercedes
um alemão que reverencia a tradição. Exageros à parte, é simples
concluir que há três propostas diferentes entre essas fabricantes. Não é
o caso de se tratar do jeito certo ou errado de se fazer carros, mas de
como eles podem ser feitos.
Isso fica bem claro após o primeiro contato com a nova geração do BMW Série 3 e a consequente constatação de que ele é muito diferente dos seus históricos competidores, Audi A4 e Mercedes-Benz Classe C .
Novamente, decidir qual desses três carros é melhor é uma mera questão
de preferência pessoal e do que se espera de um sedã do tipo. É
inegável, contudo, que a estrela (desculpe, Mercedes) da BMW faz o
coração de quem gosta de dirigir bater um pouco mais rápido.
O G1 avaliou a versão 328i Luxury (R$ 212.950) da nova
geração do Série 3 em um percurso de pouco mais de 20 km na região de
Itupeva, no interior de São Paulo. O trajeto foi totalmente rodoviário, e
mesclou um trecho da Rodovia dos Bandeirantes com 6 km de uma estrada
particular cheia de curvas. 

'Angry bird'
O novo desenho dos faróis do BMW Série 3 entrega a vocação esportiva do
carro e é a novidade mais notada. Mais afilado em sua porção próxima à
grade, ele cria um conjunto com esse elemento, dando a sensação de
unidade e dotando, assim como no novo Série 1, o carro de um olhar
parecido com um Angry Bird, personagem do jogo que virou febre em
celulares. O visual "malvado" é endossado pelo capô musculoso e pela
entrada de ar no para-choque.

O curioso é notar que, mesmo com um aspecto bem diferente, não há uma
quebra visual em relação à geração anterior do carro. Elementos
tradicionais, como a delineação do vidro traseiro pela coluna C (traço
conhecido como "Hofmeister Kink", que estreou na marca em 1961 pelas
mãos do diretor de design à época, Wilhelm Hofmeister) e os três volumes
bem definidos estão lá. Há menos vincos, em especial na lateral,
bastante plana e com duas linhas principais, uma na altura das maçanetas
das portas e outra na base do carro.

Atrás, as lanternas são recortadas pela tampa do porta-malas e o para-choque tem visual volumoso.

Sala de estar
O interior dos BMW
é, tradicionalmente, sóbrio, quase como se quisesse disfarçar as
virtudes do carro. Uma rápida olhada poderia causar expressões do tipo
“pobre” e “sem graça” naqueles que não são iniciados no estilo da marca.
Expoente disso é o quadro de instrumentos, que é avesso a cores ou
itens tecnológicos, podendo ser considerado até simples demais para um
carro de alma premium.

Mas o necessário está ali. O acabamento é de ótima qualidade e o clima
informal da cabine, quase despojado, se mostra, na verdade, acolhedor.
Bancos dianteiros, com ajustes elétricos de posição, acomodam bem o
corpo. Há boa oferta de espaço tanto para quem vai à frente quanto para
os passageiros da traseira. Estes últimos encontram dificuldades somente
para sair do carro, já que transpor a alta soleira das portas causa
dificuldades de início.
A lista de equipamentos contempla desde o trivial para um carro desse
segmento (ar-condicionado, central multimídia, direção elétrica, volante
multifuncional, memória de posição dos bancos, entre outros) a itens
mais avançados, como o sistema Start-Stop (que desliga o carro em
paradas, como nos semáforos), três modos de condução (esportivo,
confortável e econômico), que ajusta parâmetros como a resposta do
acelerador e a assistência na direção; e o controle de estabilidade
(DSC), que monitora outros sistemas como os freios ABS, o diferencial
traseiro e os controles de tração, de frenagem em curvas e de secagem
dos freios.
Ao volante
É possível notar que a condução do novo
Série 3 é especial já nos primeiros metros. O motor 2.0 de quatro
cilindros turbo oferece disposição em todas as rotações. Ele é dotado de
injeção direta e abertura variável das válvulas. São 245 cavalos de
potência e um torque de 30 kgfm já aos 1.250 rpm, o que garante
arrancadas e retomadas vigorosas, com uma nota grave saindo do
escapamento. E sem beber demais: segundo a BMW, a média de consumo é de
15,6 km/l, considerando a gasolina europeia.

Na tal estrada particular repleta de curvas, o Série 3 mostrou a que
veio. A clássica combinação de motor dianteiro e tração traseira dota o
modelo de um apetite voraz para curvas, capaz de empolgar até o mais
pacato motorista, com o bônus de que é simples encontrar uma posição de
dirigir com os ajustes de banco e de volante.
A suspensão inclina pouco e, com a condução ajustada eletronicamente
para o modo esportivo, a direção fica no peso ideal para que a mistura
entre diversão e segurança ocorra perfeitamente. A estabilidade é total,
sem qualquer intervenção de controles eletrônicos, e coloca uma dúvida
na cabeça do motorista: qual é o limite desse carro? O Série 3 causa uma
sensação diferente do "andar sobre trilhos" dos carros dotados de
tração nas quatro rodas. É tão eficiente quanto, porém, mais visceral. A
conta é cobrada nos pisos irregulares, quando o BMW sacoleja um bocado e
a suspensão bate de forma seca – efeito que já foi pior no passado.

Em linha reta, quem estiver na posição de comando do carro vai, no
mínimo, desejar estar em uma autobahn, as famosas estradas alemãs sem
limite de velocidade. No Brasil, o motorista terá que se policiar o
tempo todo para não ser multado, já que, mesmo em velocidades altas, o
carro não oscila ou se mostra instável.
A (talvez única) crítica diz respeito ao isolamento acústico das
portas. Por vezes o barulho do ar sendo cortado pela carroceria do sedã
deu a impressão de que uma pequena fresta da janela estava aberta.
Conclusão
Ao fim do teste, fica fácil entender a diferenciação entre Audi,
BMW e Mercedes citada anteriormente e, nessa consideração,
representados por A4, Série 3 e Classe C, respectivamente. O "moderno"
do Audi é a tecnologia a bordo do A4, o "tradicional" do Mercedes-Benz
vem na forma do conforto que o Classe C oferece, e o "louco" do BMW se
personifica no prazer ao dirigir do Série 3. Cada um vai muito bem na
sua proposta. Quem gosta de dirigir, entretanto, tende a escolher o
último, naturalmente.
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