quinta-feira, 30 de junho de 2011

Indústria de veículos no Brasil é até 60% menos competitiva, diz Anfavea

Um estudo da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea),  apresentado nesta quarta-feira (29), aponta que a indústria automobilística brasileira é até 60% menos competitiva em relação a países como China, Índia e México.

Segundo o levantamento feito em parceria com a empresa de consultoria PricewaterhouseCoopers, entre os principais fatores que influem no custo de produção está a alta do valor da mão de obra.
Esse valor, incluindo encargos sociais, é de 5,3 euros por hora no Brasil, aponta a pesquisa. No México, principal concorrente da região em investimentos, a média é de 2,6 euros a hora. Na China, a hora de um trabalhador custa 1,3 euro e, na Índia, 1,2 euro. "O Brasil atraía investimentos tradicionalmente pelo custo da mão de obra. Hoje em dia perdemos isso", afirma Cledorvino Belini, presidente da associação.
A taxa básica de juros real também é apontada como "vilã" pela Anfavea: ela é de 5,5% no Brasil, perdendo de longe para países em desenvolvimento como México (1,1%) e China (1%). Outro ponto destacado é o gasto com energia para se produzir. O estudo mostra que, somente com eletricidade, no país o KW/h custa 0,10 euro. Na Europa, o custo é de 0,06 euro KW/h, já no México é 0,05 euro e, na Argentina, 0,04 euro.
A diferença, segundo Belini, afasta cada vez mais os investimentos. Um exemplo recente disso foi o anúncio da fabricante japonesa Mazda de construção de duas fábricas no México, sendo que 70% da produção atenderá o mercado brasileiro. Apesar das perdas de investimentos como nesse caso, o Brasil ainda está entre os países com mais forte potencial no setor. Tanto é que empresas como Chery, Hyundai, Kia Motors, Renault-Nissan e BMW têm planos consolidados para a construção de novas fábricas no país.
"O Brasil ainda nos dá vantagens competitivas. Vamos conseguir produzir o QQ no país com baixos preços, por exemplo, porque vamos compensar a alíquota de importação de 35% que incide hoje sobre os nossos produtos", afirmou ao G1 o presidente da Chery do Brasil, Luis Curi, sobre a fábrica da montadora chinesa que será construída em Jacareí, no interior de São Paulo. No entanto, ele reconhece que o México é um forte concorrente do Brasil.

Estudo está nas mãos do governo
A análise, que abrange as fabricantes de automóveis, caminhões, ônibus, máquinas agrícolas, peças e componentes, foi apresentada ao governo brasileiro para que medidas de incentivo sejam tomadas. "Custos maiores significam perda de exportação, avanço das importações e perda de produção", ressalta o presidente da Anfavea. Segundo Belini, o país precisa de um conjunto de políticas e ações em curto prazo para melhorar a competitividade da indústria automobilística.
O presidente da Anfavea diz que não exigiu medidas específicas do governo, mas afirmou que a solução está nos incentivos em pesquisa e desenvolvimento. Isso aumentaria o índice de nacionalização dos veículos fabricados no Brasil. "Temos capacidade para desenvolver internamente tecnologia, um exemplo disso é o uso de materiais naturais nos carros, que reduzem preço e custo", aponta Belini.
A ideia é que o país se torne um centro de desenvolvimento tecnológico do setor, o que aumentaria a escala produtiva, reduziria preços e reverteria o "gap" de 60% das exportações totais em relação às importações. A Anfavea reforça que a produção nacional tem que acompanhar o ritmo do mercado interno, o que significa também recuperar as exportações.
"Não adianta chorar câmbio, temos que aceitar o real valorizado. Escala de produção nós temos, só não podemos perder isso para os outros", ressalta Belini. De acordo a PricewaterhouseCoopers, o país deverá atingir em 2020 a produção de 6 milhões de veículos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário